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quarta-feira, novembro 16, 2005

As aventuras de Joana III

III Capítulo

Mudanças


Chegou o Sábado e Joana acordou às 7 da manhã pronta para arrumar a casa toda sózinha se fosse necessário.
A Mãe fora perentória! Não deviam das trabalho extra às criadas. Se não íam gozar da festa não deviam ser “castigadas” com trabalho a mais do que o normal. Ajudariam no que fosse preciso mas o trabalho pesado era com os três irmãos. Antes e depois da festa porque era preciso deixar tudo arrumado e limpo para o dia seguinte.

7 horas da manhã era muito cedo, não podia fazer barulho porque os Pais só acordavam às 8.
Sentou-se na cama e pôs-se a recordar como conhecera Leonor e como se tornaram amigas desde esse dia.
Tinham saído de Sintra onde viviam numa casa linda que perteceram ao bisavô, rodeada de árvores, flores, laguinhos com peixes e salamandras com que Joana adorava brincar. A Avó morrera e a casa de Lisboa ficara vazia. O Pai decidira ir viver para lá já que Sintra ficava muito afastada de tudo e Jorge tinha dificuldade em ir para a Faculdade todos os dias. Joana tinha 10 anos quando se mudaram para Lisboa e odiara aquela mudança. Sentira faltas das suas árvores às quais trepava como um macaquinho, dos passeios a pé pela Serra de Sintra, as ídas ao Palacio da Pena e ao Castelos dos Mouros e as brincadeiras com o seu amigo Chico, o filho da mulher a dias que a levara a descobrir recantos de Sintra que mais ninguem conhecia.
Ficara danada com a casa de Lisboa. Situada no coração da cidade não tinha jardim e a Mãe não a deixava sair para a rua porque era perigoso. Só aos fins de semana, o mano Jorge pegava nela e íam a pé até ao Castelo de S. Jorge e, aí, Joana brincava , corria atrás dos pavões, trepava as arvores e dava de comer ao patinhos.
A Mãe, sabendo da sua necessidade de ar livre resolveu inscrevê-la nas Guias – a versão feminina dos Escuteiros – as reuniões eram perto de casa, na quinta de uns amigos dos Pais situada no centro da cidade. E teria amigas da sua idade para brincar.
Joana fora contrariada à primeira reunião. A Mãe chamara-lhe bicho do mato mas obrigara-a a ir, sabia que, vencida a primeira timidez ela ía gostar.
Chegou ao local da reunião e mandaram-na ir para uma grande estufa cheia de mesas enormes e com bancos corridos. Joana sentou-se e esperou. À sua volta sentaram-se, igualmente, meninas da sua idade até que chegou uma mais velha que ocupou o topo da mesa.
- Olá, eu sou a Betty e sou a vossa chefe de patrulha. Vamos escolher o nome da nossa patrulha e o simbolo. Aqui vão aprender tudo o que uma Guia tem que ser. Ser Guia é sê--lo por dentro, no coração, a todas as horas e para toda a vida.....
E continuou a explicar o que tinham que aprender. No fim deu um Manual das Guias a cada uma das crianças.
- Então meninas, qual é o lema das Guias?
- Sempre Alerta! – disseram 10 boquinhas infantis com toda a convicção.

No intervalo foram todas lá para fora correr e saltar como cabritinhas à solta e nisto, Joana reparou que a menina que estivera ao seu lado na reunião, se mantinha afastada de todas as outras. Foi ter com ela.
- Olá eu sou a Joana. Queres vir brincar?
- Eu chamo-mo Leonor e preferia brincar com as minhas bonecas. Não gosto de correr porque estou sempre a cair e a maguar-me.
- Ah! Mas não precisas de andar a correr. Olha vamos para aquele cantinho e vamos conversar. Vais contar-me como são as tuas bonecas, está bem?
E assim começou uma amizade que havia de se manter pela vida fora.

Quando a reunião chegou ao fim os Pais estavam à sua espera para a levar para casa e Joana, radiante contou toda a reunião, o que tinha aprendido e como tinha feito uma nova amiga, a Leonor.
- Estás a ver – disse a Mãe sorrindo – eu sabia que ías gostar. Se não te tivesse obrigado a vir terias perdido isto tudo.
- Pois é Mãe, tem razão. Obrigado por me ter posto nas Guias. É muito divertido.

Nisto Joana olhou para o relogio. 8 e 15! Já estava atrasada para o pequeno almoço. Era o que davam as recordações. Levantou-se num pulo, vestiu o roupão e correu pelas escadas abaixo.
(continua)

quinta-feira, novembro 10, 2005

As Aventuras de Joana II

II capítulo
A festa (cont)


Durante o jantar não se falou acerca da festinha de Sábado. Joana, impaciente, bem olhava para Jorge e levantava as sobrancelhas para o estimular. Mas Jorge falava calmamente com o Pai e parecia nem reparar.
O Pai só estava em casa à hora das refeicões e, embora fosse doce e meigo, de vez em quando tinha uns rasgos de mau feitio. Joana adorava-o mas temia as suas fúrias repentinas quando qualquer coisa o contrariava. Fosse a politica do governo fosse um qualquer episodio doméstico. Por sorte essas furias só duravam 5 minutos e depois voltava a ser o Pai amoroso com quem todos podiam contar.
Por isso, nem se atreveu a abordar o assunto. Se o fizesse, Maria iria contestá-la e a hierarquia lá em casa era sagrada. Teria que acatar o que a irmã mais velha decidisse. Não, era melhor deixar o Jorge tratar do assunto.
Quando acabaram a refeição Jorge fez sinal a Joana para que saísse da sala de jantar. Queria conversar com a Mãe e a Maria mas não queria a miuda presente.
Joana subiu as escadas em direcção ao quarto com o coração aos pulos. Ai, como desejava que Jorge fosse bem sucedido na sua missão! E pôs-se a pensar quem iria convidar. A Leonor, a sua melhor amiga, desde os 10 anos, o irmão dela, o Frederico. O primo João, da sua idade lá teria que vir porque se não lhe dissesse nada a tia Rita, irmã do Pai, ficaria ofendida. Não gostava dessa tia nem um bocadinho. Autoritária e prepotente. Tratava o João como se ainda fosse um bébé, impondo-lhe um horario tão rigido que o pobre rapaz até tinha horas certas para cortar as unhas. E claro, não lhe dando um minuto de liberdade. O rapazinho não tinha culpa de ser tão “atado”, era prisioneiro daquela megera.
Ouviu bater a porta do quarto da irmã com mais força do que a necessária e deduziu que a conversa já acabara e que o desfecho lhe tinha sido favorável e não do agrado de Maria mas esperou calmamente que Jorge a viesse chamar. Não teve que esperar muito, o irmão não tardou a bater-lhe à porta.
- Posso?
- Entra
- Olha a Mãe pede para tu ires falar com ela. Deixa-te convidar três amigos.
Joana levantou de um pulo e correu pelas escadas a baixo direitinha à sala onde estavam os pais.
- Então Mãezinha, posso?
- Podes, sim querida. Podes convidar 2 amiguinhos mas o João tem que vir obrigatoriamente, já sabes.
- Não faz mal Mãe. Vou dizer à Leonor e ao Frederico. Vou já telefonar-lhes.
- Espera filha, deixa-me primeiro telefonar à tia Rita. Se o João não puder vir podes convidar amis um amigo.
- Está bem Mãe – e Joana inclinou-se para lhe dar um beijo – és um amor Mãezinha, obrigado.
- Não tens de quê minha querida. Vá agora deixa-me telefonar e vai para o teu quarto estudar. Assim que eu falar com a tia vou lá cima dar-te as novidades.

Estudar? Nem pensar! Como é que ela se podia concentrar para estudar se a cabeça estava noutro sitio? Mas fez um esforço e agarrou no livro de História, a sua disciplina preferida.

Meia hora mais tarde a Mãe entrou no quarto com uma cara não muito satisfeita.
- Não vais gostar muito das novidades Joana mas foi o que se conseguiu arranjar. O João vem mas traz um mamigo. A tua tia foi categórica em dizer que queria que o João viesse acompanhado.
- Ai Mãe mas assim já não posso dizer ao Frederico e, se ele não vem, a Mãe da Leonor não a vai deixar vir sozinha. A Mãe sabe bem que a Leonor nunca sai sem o irmão.
- Bom, então em vez de três vão ser 4 os teus convidados. Eu também não gostaria que a minha filhota de 16 anos andasse sozinha à noite nesta Lisboa.
- Obrigado mais uma vez,Mãe. Posso telefonar à Leonor agora?
- Vai, corre, telefona lá à Leonor – disse a Mãe sorrindo.
E joana radiante telefonou à amiga convidando-a e ao irmão para a festinha de Sábado. A seguir foi ao quarto do irmão.
- Jorge?
- Entra.............Então? A Mãe já te contou as novidades?
- Já sim. Vinha agradecer-te. Obrigado maninho. A Maria ficou muito chateada?
- Bem, sabes como ela é. Teimosa e autoritária. Mas teve que ceder porque o Pai farta daquela discussão deu um dos seus murros na mesa e disse que não compreendia qual era o problema de tu queres convidar alguem. Que diabo, a casa era das duas e a festa tb. Ou ela queria uma festa só para si e outra para a Joana. Que disparate! E ela nem se atreveu a discutir com o Pai.
Joana abraçou o irmão e foi para a cama. Faltavam só cinco dias para a festa e ela tinha que se levantar muito cedo para estudar. Tinha um teste de Geografia na 5ª feira e precisava de tirar uma boa nota.
(continua)

quarta-feira, novembro 09, 2005

As aventuras de Joana



As aventuras de Joana
I Capítulo
(a Festa I)
Joana estava danada! A Mãe, como sempre, não a deixava ter os amigos lá em casa mas, à sua irmã mais velha permitira-lhe ter uma festinha no Sábado.
Maria, de 20 anos, 4 anos a mais que Joana, estava radiante. Podia convidar 30 amigos – dissera a Mãe – mas não iria permitir a Joana que convidasse ninguem do grupo dela. Com 16 /17 anos são todos insuportáveis e nem sequer conseguem ter uma conversa decente. Para esta festa só iria convidar os amigos e colegas da Faculdade.

Joana jurou a si própria que no Sábado iria para a cama às 8 h , a seguir ao jantar. E não iria ajudar em nada. Era preciso tirar o tapete da sala pôr mais cadeiras, o gira discos e os discos na mesinha de canto e as grandes colunas que o mano Jorge tinha feito. O som estava impecável e, smbora os pais não os deixassem ter o som muito alto pelo menos era de qualidade. E balançava entre a vontade de ir à festa dançar e divertir-se ou amuar e fechar-se no quarto.
Foi ter com o mano Jorge – o mais velho de todos – para tentar consolar-se.
- Não é justo o que a Mãe fez, Jorge – dizia ela chorando – a Maria pode fazer tudo e eu nem sequer posso convidar ninguém.
- Ouve Joana, a Maria tem 20 anos, teve montes de convites este ano e tem que retribuir. Faz parte das regras de boa educação e tu sabes isso muito bem. Mas olha eu vou falar com a Mãe e com a Maria para que tu possas convidar 2 ou 3 amigos. Está bem assim? Vá limpa essas lagrimas, dá-me um beijo e deixa-me estudar.
Joana deu um beijo naquele irmão tão querido e foi-se embora resignada. Ainda furiosa mas mais calma. Jorge tinha o dom de a acalmar e procurava encontrar sempre soluções justas para cada situação, sobretudo para as frequentes guerras que surgiam entre as irmãs.

Maria sempre tivera imensos ciumes da sua irmã mais nova. Tinha 4 anos quando ela nascera e não aceitou de bom grado ter deixado de ser o bébé da casa. Jorge, 5 anos mais velho era o seu idolo, o seu heroi e protector e não vira com bons olhos a ternura e o carinho com que tratava o novo bébé. Se bem que tentava disfarçar não perdia a oportunidade de fazer valer a sua autoridade de mana mais velha e, sobretudo, de humilhar Joana em publico e em privado. Ainda por cima a miuda era linda – toda a gente o dizia. Tinha um cabelinho aloirado com caracois suaves, uns olhos verdes enormes, uma figurinha delicada e uma pele suave e transparente que a faziam parecer uma delicada bonequinha de porcelana.
Maria, pelo contrario era alta de mais para a sua geração e engordara imenso na adolescênciaTinha o cabelo preto completamente liso, uns olhos pequeno e escuros e a pele era muito morena. Por não gostar do seu aspecto fisico não se arranjava nem se pintava. Dizia que isso eram artificios para pessoas sem inteligência. No fundo sonhava ser tão bonita como sua irmã mas adoptara o estilo intelectual-não-me-ralo-com-as-aparências, como defesa. Sentia-se feia e desageitada e a sua arma era o cérebro.
Vingava-se dizendo a Joana que ela era estupida, completamente anormal porque chumbara um ano no liceu. Nem ela nem Jorge tinham chumbado alguma vez. Esquecia-se que Joana estivera muito doente com febre reumatica e que, durante quase todo o ano lectivo não tinha ído às aulas. Bem, não se esquecia mas gostava de se esquecer porque essa doença da irmã veio agravar ainda mais os ciúmes que sentia. Com uma doença tão grave, Joana fora alvo de cuidados especiais e de uma atenção redrobada. Jorge passara muito tempo no quarto da irmãzinha velando-a, tratando dela, contando-lhe histórias. Adorava esta miuda tão sensivel e vulnerável e sentia que Maria a tratava muito mal. Esta ficava vitoriosa quando depois de a encher de insultos, a miuda ficava com os olhos cheios de lágrimas e ainda rematava........”Além de burra ainda és feia, a unica coisa bonita que tens são os olhos mas como nem sequer têm expressão ninguém repara neles”......
Era mentira e ela sentia-o na pele. Toda a gente reparava em Joana , gabava a sua beleza e, sobretudo os seus olhos. Mas esta nem se apercebia do impacto que tinha nos outros. A imagem que tinha de si própria era de uma menina feia, burra e sem graça.
(continua)

quinta-feira, novembro 03, 2005

Alentejo

Alentejo
Hoje, estava a pintar na minha casinha/oficina que tenho no jardim e a ouvir um dos meus cd's preferidos, "Quarto Crescente" de um grupo português chamado a Quadrilha. Esse grupo fantastico tem como principal autor de poemas e musicas um não menos fantastico poeta e músico português que se chama Sebastião Antunes. Devo acrescentar tb a voz linda que tem e a maneira sensivel como canta.
E não resisti a publicar aqui o poema de uma das canções do disco. Que me perdoe o Sebastião Antunes por não lhe pedir licença mas não o conheço pessoalmente (tenho pena) e nem sei como lha pedir. É a minha preferida e dedico-a a todos os Alentejanos em geral e a dois em particular: Ao Manel do Montado e ao Texugo (Badger) que tantas palávras tão queridas e elogiosas deixam no meu modesto blog.
Toada do Alentejo


Ainda trago um gosto a trigo atrás de mim
Que se me agarrou à alma ao nascer
Sou como um carreiro longe de ter fim
Como quem ceifou cearas sem saber
Sou lá donde ninguem fala as marés
De onde o horizonte queima o olhar
Por paixão ainda trago arder nos pés
O calor de uma seara por cortar
Já cantei desde a nascente até à hora do Sol pôr
Já naufraguei nas ribeiras ao luar

Ai Alentejo quem te amou não se esqueceu
E ainda se ouvem os teus ecos
Nas cantilenas do Sol

O Sol deu-me histórias velhas p’ra contar
Que eu guardei de manhãzinha ao pé do rio
Em Janeiro roubei mantas ao luar
E a um pastor roubei um tarro e um assobio
Já corri atrás dos corvos já me perdi nos trigais
Ouvi rolas nos sobreiros a cantar

Ai Alentejo quem te amou não se esqueceu
E ainda se ouvem os teus ecos
Cada vez que a lua cai
Sonhos I





Sonho estender todos os meus ramos
Vazios de seiva,de folhas e de flores
Despidos de emoções como o Inverno
Até tocar em ti e ao teu amor

Encher-se-ão de tantas Primaveras
Prenhes de vida, com a seiva correndo
Não vão murchar nesta longa espera
Mas adormecer, sonhando docemente

E os meus ramos há tanto tempo secos
Vão acordar ao som de um cantar feito
Por mil pássaros de asas coloridas
Que soa fundo dentro do meu peito

As folhas rompem, abrem flores ardentes
E o sangue corre ao ritmo da paixão
E as borboletas de asas transparentes
Explodem vivas no meu coração

Zica Caldeira Cabral
31/10/2005