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sábado, setembro 24, 2005

Ambição


Ambição
Sempre tinha sido ambicioso. O pai ensinara-o nas artes e manhas da guerra. Chamava-se Gil e era o terceiro filho. So lhe restava mesmo ser soldado e lutar mas, nao era isso que queria. Queria mais, queria poder . Mas sem fortuna nunca o iria alcancar. Desde os 11 anos , quando entrou ao servico do Marques como pagem que se preocupava com isso.
Os dois irmaos mais velhos eram fracos. Um herdaria as terras do Pai , o outro estava destinado ao clero.
Agora era o Senhor de tudo. Ambos os irmaos tinham desaparecido. O mais velho num acidente de caça, uma besta tinha-o trespassado mortalmente . Nunca se chegou a saber quem a tinha disparado. O outro, tinha caido, acidentalmente , numa ravina quando andava a meditar pelos montes.
Era o Senhor daquelas terras mas ainda nao tinha poder. Terras estereis pelo vento cuja unica sementeira eram os enormes pedregulhos e os camponeses ranhosos que aqui e ali se arrastavam esfomeados. Sem serventia, sem futuro.
A solucao estava no seu casamento com a filha do Marques, uma menina ainda, com apenas 12 anos ,mas mostrando ja formas airosas de mulher –crianca e, sobretudo, herdeira da imensa fortuna do pai. Mas o Marques tinha outros planos para a filha. O principe herdeiro, seu primo em 2º grau, dera mostras de reparar na rapariga e era a ele que o Marques a destinava.
Teria que fazer alguma coisa antes que tais planos se concretizassem.
Como antigo pagem e vassalo , tinha livre entrada no castelo e grajeara a amizade do seu suserano. Poderia entrar quando lhe apetecesse - ou melhor , quando os seus planos estivessem completamente delineados. O Marques teria que desaparecer. Nao num acidente como os irmãos mas de forma que, sem ser dado como morto, nunca mais aparecesse. Ele poderia assim insinuar-se e casar com a menina, alargando o seu territorio e ficando com uma fortuna imensa.
Uma das alas do Castelo sofrera uma enorme degradação no ultimo Inverno e estava a ser recuperada, Gil ofereceu-se gentilmente para superintender os trabalhos.
“ – O Intendente tem muito trabalho – disse ao Marques – Precisa de alguem de confiança que vá vigiando o ritmo das obras.
- Fico imensamente grato com a tua oferta e aceito de bom grado, o Intendente está a ficar velho para arcar com tudo e quero ver se tenho tudo em ordem para o casamento da minha filha.
- Ah! Já está acertado o casamento? – perguntou Gil inquieto
- Bem, ainda nao falei oficialmente com o Rei, até porque Branca é ainda uma menina mas dentro de uns meses falarei e estou certo que a alianca será do seu agrado.

Gil ficou pensativo. Teria que arranjar tudo naqueles meses . Planear os mínimos detalhes para que nada corresse mal. Não poderia haver testemunhas da sua presenca no Castelo nesse específico dia. Menos ainda acompanhando o Marques. E teria que ser rapido. A ala em obras era a mais afastada da entrada principal por isso poderia entrar e sair sem ninguem notar. O dificil era atrair o Marques ao local sem que ninguem notasse. Teria que ser num Domingo, antes da hora da Missa para que nenhum trabalhador la estivesse.
Foi tudo pensado e repensado. O Marques desaparaceu, num soalheiro Domingos de Ramos, dentro de um dos novos muros do seu Castelo. Gil soube consolar Branca, acompanha-la no seu desgosto e tornar-se tão indispensável que a Menina, em breve, aceitou aquela mão que generosamente se lhe oferecia.
Tinha, finalmente, alcancado o seu tão ardente desejo. Riqueza e Poder.
Remorsos ou escrupulos nunca soube o que eram.

Zica Caldeira Cabral