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domingo, janeiro 15, 2006

O Mito do Automóvel

O Mito do Automóvel


O que é um Mito?
Qual o seu valor psico-sociológico para o ser humano?

Será que o Homem moderno ainda “fabrica” Mitos? Será que ainda precisa de se agarrar aos Mitos para sobreviver como especie racional?



O Mito é um relato semi-fantástico que no seu cerne procura fornecer ou encontrar uma explicação sobre as origens de tudo – inclusive do próprio Homem, do seu Universo Ambiental e do Universo Global.
O seu valor psico-sociológico é imenso pois serve de aglotinador social dando ao Homem a estabilidade necessária à sua sobrevivência e mostra-lhe o seu lugar no Universo. Ao verbalizar o Mito, transforma-o na ponte que o liga ao transcendente tornando-se parte de um Divino que o afasta da sua parte animal, demasiado frágil e indefesa para lidar com tudo o que não consegue entender e atingir com os seus sentidos.
Ao verbalizá-lo, materializa-o, transformando-o em matéria palpável com a qual já pode lidar, manipular e adaptar às suas necessidades.
O Mito é a segurança do Homem, a tábua de salvação que lhe permite aventurar-se na existência com a certeza de uma protecção Divina ao mesmo tempo que tem os pés assentes num chão seguro.
O Homem que crê no Mito é forte , está protegido e pronto para enfrentar e vencer a hostilidade dos seus mundos – interior e exterior.


Para o Homem primitivo que tinha que lidar, no seu dia a dia com o permanente desconhecido e com um ambiente ainda em formação e em transformação, o Mito era a forma mais imediata de sobrevivência quer fisica quer espiritual.
A Mitologia de todas as antigas civilizações, relata a formação primária, ordena cronológica e hierarquicamente o Universo Divino e o Humano e procura explicar teologicamente as suas origens.
Eram “fáceis” e “acessiveis” os primeiros mitos e incrivelmente necessários aos Homens de então para explicar o que não era explicável. Eram relatos simples, moralizantes e normativos que fundamentavam a existência do Homem e o posicionavam com coerência na sociedade.
À medida que o Homem foi dissociando a sua existência profana do sagrado; à medida que se ía tornando um ser cada vez mais racional e técnico, os Mitos antigos perderam o seu valor e já não eram suficientemente fortes para suportar o peso da cerebralização progressiva do ser humano.

Nos primitivos tempos da Era Industrial houve que reconverter os Mitos Classicos, arranjar-lhes novos significados, escondidos, metafóricos. Na verdade, cada relato mitológico não era bem o que parecia, numa primeira leitura. O seu verdadeiro significado era dado numa outra dimensão mais profunda onde se procurava encontrar a antiga segurança adaptada às, agora, diferentes necessidades do Homem.

Mas, após muito estudados, apertados e espremidos, os antigos Mitos passaram enfim à História, racionalizados na consciencia colectiva do Homem Civilizado e possuidor de novas fontes mitológicas:
A Ciência e a Tecnologia


A Ciência porque, a partir do sec. XVIII, suplantou e substituiu, na sua explicação e busca da verdade original, toda a Mitologia Clássica. Era na Ciência, na racionalidade, no Positivismo que o Homem se apoiava agora para caminhar com segurança.

A evolução humana foi dividida por etapas

- A Era dos Deuses
- A Era dos Herois
- Era dos Homens – a mais importante

Já não é aos Deuses nem aos Heróis mitológicos que o Homem pede ajuda mas sim ao próprio. Ou seja, encontra-a dentro de si . Não é no transcendente que se vai segurar para encontrar o seu espaço espiritual, é no Material, no Cérebro, no palpável, na sua inteligência.
A Ciência foi, pois, até à Era Tecnológica a fonte principal da Mitologia.

Mas eis que desponta a Era Tecnológica, a Era das Máquinas que iriam substituir o Homem no trabalho pesado nos campos, na guerra e na industria.
O Homem sentiu-se, de novo, pequeno, indefeso e frágil. O resultado do seu trabalho, o fruto da sua inteligência, substituía-o, ultrapassava-o.
Porém ainda podia ser dominado e controlado. Ainda podia ser uma tábua de salvação. O Mito mais moderno iria cumprir também as suas funções primitivas de dar segurança e controle do seu habitat, ao ser humano.

Transformado, adaptado às necessidades psico-sociológicas do Homem Cientifico e Tecnológico o Mito aparece sob a forma de um Automóvel. Tornou-se o seu dogma, o seu “modus vivendi” e formalizou o seu “status” dentro da sociedade.

Dentro do seu Automóvel, seja ele de que marca ou modelo fôr, o Homem está seguro, protegido como no utero materno. O Homem mais timido, retraído e recalcado, torna-se arrogante, dominador, provocante e poderoso. O Mundo é seu! Contrala-o totalmente e sem receios. Ai de quem se atravesse no seu caminho, ai do invasor que se atreva a profanar o seu sanctuário. Dentro de um casulo de vidro e metal o Homem sente-se, por fim, a correr sobre a ponte que o liga à sua verdadeira essência: o Divino.
Transforma-se em Super-Homem, complacente com as fraquesas das criaturas que com ele se cruzam, os peões, a quem, por bondade divina, concede a passagem......por vezes.............se vir humildade na sua (dos peões) atitude.

Mas ao descer do seu pedestal de lata, plastico e vidro “inquebrável” que o protege de tudo e de todos – menos de si próprio – volta a ser o que é na realidade. Indefeso perante o que não consegue prever e entender. Tal como o Homem primitivo de quem se sente a milhares de anos de distância......

Zica Caldeira Cabral.

36 Comments:

Blogger Manel do Montado said...

Amiga Zica,

Sem qualquer espécie de cinismo ou graxa…sorri até ás orelhas de alegria, apreciação e apreço pelo teu texto e olha que já li muita coisa, oh se li!
Descreve com uma elegância e certeza extraordinária a história da evolução do pensamento do homem e a justificação para a sua existência subalterna no mundo. Sempre sentiu a necessidade de encontrar justificações para o que não entendia e hoje, com os automóveis, entendendo as justificações de que a máquina se controla até certo ponto, tem-se a ele homem como mito primeiro e justificação última da sua superioridade enquanto animal.
Mentalmente aplaudo-te de pé, enquanto grito bis, bis!
Vou copiar este texto porque ele explica simplisticamente aquilo que muito professor de filosofia tem dificuldade em transmitir e, se me permites a ousadia do desafio, incentivo-te a escreveres um ensaio sobre esta matéria que agora publicas.
Já li muita coisa, muita mesmo, mas de forma tão simples e precisa ainda não me tinha passado pelos olhos. O meu aplauso e a esperança de que nos presenteies com mais escrita sublime desta natureza.
Sinceramente, está para lá de bom, está excelente.
Um Beijo

PS: Eu cá tinha a certeza que a menina escrevia bem quando uma vez trocamos umas palavras sobre o ter ou não jeito para escrever. Eu sabia…o toque de pena não é para todos.

11:57 da tarde  
Blogger Zica Cabral said...

Ai Maneli......................obrigado pelas tuas tão elogiosas palavras. Até fiquei corada juro...........Eu já tinha escrito este texto há muitos anos. Modifiquei algumas coisas mas na essencia está tal qual como em 1987. Resolvi publicá-lo aqui e partilhá-lo com os amigos.
beijokas grandes e coradinhas
Zica

8:24 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

sabes que por principio não acredito em mitos.
Depois - apesar de teres abordado de forma excelente o tema - parece-me que está um tudo-nada linear.
Talvez precisemos do mito, do herói, do sonho..
Beijo

6:18 da tarde  
Blogger JL said...

Está fantástico este texto.
Tenho um amigo que diz, meio a sério, meio a brincar, que a forma como o homem usa hoje o automóvel é um vestigio herdado do paleolítico. Nessa altura o homem fazia a sua arma e partia para as caçadas. Não largava a sua arma e estimava-a como companheira do dia a dia. Hoje o homem pega na sua nova arma, o automóvel, e parte em busca das melhores fêmeas, esperançado que a sua nova arma o ajude na conquista.

8:44 da tarde  
Blogger António said...

Querida Zica:
Transpuseste para aqui um texto de 1987 com algumas modificações. Está bem elaborado mas, se me permites, não concordo em aspectos básicos.
Toda a primeira parte do teu texto está, a meu ver, muito correcta.
Mas acho que os Deuses ainda não foram substituídos inteiramente como "aglutinadores sociais dando ao Homem a estabilidade necessária à sua sobrevivência e mostra-lhe o seu lugar no Universo".
As religiões mantém um forte atractivo e o islamismo está mesmo numa fase de grande expansão.
Penso que tens razão quando falas da Ciência e da Técnica como um novo mito, mais materialista, mas nem por isso roubou o lugar dos mitos divinos. Veio complementá-lo.
Finalmente, acho que o automóvel não é própriamente um mito no sentido lato em que o são os outros dois.
É mais uma forma de o homem manifestar Poder, que é uma ambição que vem desde os tempos mais primitivos.
O Poder do domínio sobre outros homens, da posse de bens (como a terra).
O dinheiro é, hoje, o maior símbolo do Poder pois ele permite o domínio sobre quasi tudo.
Podes dizer que o Poder dá segurança. Sim! Mas de uma forma que não elimina as religiões nem o saber ciêntífico e sobretudo a técnica que emerge da ciência.
O automóvel é pois, na minha opinião, uma forma de o homem sentir Poder, como o são o poder político, a posse da terra e outros bens materiais (incluindo o automóvel), a adulação pelas multidões dos artistas e atletas.

10:17 da tarde  
Blogger António said...

Penso que não tenho as ideias ainda muito claras sobre o assunto pois nunca pensei nele (ou se o fiz já não me lembro).
Mas talvez o Poder seja, ele sim, um 3º complemento dos Mitos que muito bem definiste inicialmente.
Enfim...já estou um bocado baralhado.

Beijinhos

10:22 da tarde  
Blogger Eduardo Leal said...

Ora aqui está um Blog muito interessante.
Gostei muito deste artigo, apesar de, em alguns pontos discordar (pelo menos numa primeira e rápida leitura).
Não acho por exemplo que tenha sido a ciência do séc. XVIII a por em causa os mitos da era clássica.
A crítica ao mundo dos deuses do olímpo nasceu nas Planícies do mesmo montem com a dúvida incómoda dos primeiros Filósofos Gregos.
Também não concordo numa escala valorativa para: A idade dos Deuses ; dos Herois ; dos Homens.

Nessa frase enconde-se um dos mitos mais traiçoeiros para o Homem: que ele próprio é Deus e Heroi.

Por acaso... este é o tipo de artigo que dá gosto comentar.
Cá voltarei. Para já, já está nos favoritos.

11:57 da tarde  
Blogger maresia said...

Mais uns anos, passamos a outra Era, outros Mitos nascerão. O Homem alimenta-se de Mitos, sem Mitos não há esperança, sem Mitos perde-se o valor do inatingível. Os Mitos são um dos motores da Vida,. do crescimento, da Evolução.

Eu sou o meu próprio Mito, ainda agora não me consegui atingir!

9:33 da tarde  
Blogger António said...

Obrigado pela visita.
Não posso postar já porque senão fico sem material para colocar e posso não o poder criar atempadamente.
Por outro lado, convém que haja uns dias para outras pessoas poderem ler.
É mais difícil ler dois ou três episódios do que um.
Enfim!
Dois episódios por semana é um ritmo que satisfaz todas as partes, acho eu!

Beijinhos

10:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Diz-me. Tens algo a ver com o Pedro Caldeira Cabral?
Beijos

10:02 da manhã  
Blogger António said...

Querida Zica!
Obrigado pela tua visita e pelo ânimo que me deste, sobretudo a propósito do número de comentários.
Mas a coisa já se está a compôr...
Portanto, hoje já devo colocar a parte X.
Mas a parte XI é que vai arrasar!
ah ah ah

Beijinhos

9:49 da manhã  
Blogger António said...

Obrigado pela visita e pelo comentário ao episódio X.
Será que o próximo será o XI ou o XXX?
ah ah ah

Beijinhos

2:20 da tarde  
Blogger António said...

Obrigado pela visita.
A história pedia um episódio deste tipo.
Procurei um equilíbrio com erotismo, narrativa com rigor, humor e evitando resvalar para o ordinário.
Gostei muito do resultado pois sinto que consegui atingir esses objectivos.

Beijinhos

7:21 da tarde  
Blogger António said...

Querida Zica!
Obrigado pela leitura do XII episódio.
Este é de transição.
Grandes surpresas te esperam nos próximos. Já pressentiste isso.
(também tenho o pelouro da Propaganda...eh eh)

Beijinhos

2:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Minha amiga: eu sou um mito!
Abraços

5:28 da tarde  
Blogger António said...

Obrigado pela leitura e comentário ao XIII episódio da saga do Zé Viúvo.
Terá mesmo havido incesto?
A dúvida ainda paira no ar.
Atenção aos próximos episódios...
(repara como tenho jeito para vendedor de banha de cobra...eh eh)

Beijinhos

11:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Zita, onde andas?
Beijos

7:06 da tarde  
Blogger Conceição Paulino said...

excelente dissertação sobre o(s) mito)s)sua função e evolução."será k o homem moderno ainda fabrica mitos? (...)" Da-nos a resposta comgrande finesse e clareza.
Bj e bom f.s ;)

7:19 da tarde  
Blogger António said...

Obrigado pela tua visita.
Já te vou mandar um e-mail a falar do resto.
Beijinhos

3:52 da tarde  
Blogger Freddy said...

Mírcea Eliade n teria dito melhor...

Última Hora: Violentissima operação na blogosfera portuguesa... Zona Franca lança OPA sobre Abrupto

4:16 da tarde  
Blogger maresia said...

este texto é que vira mito não tarda nada, tanto tempo em primeiro lugar!

;) volta com mais coisas para nós lermos, vá lá!

9:15 da tarde  
Blogger António said...

Obrigado pela visita ao meu blog e pela leitura e "comments" ao episódio XV.
Já vai longa, a novela!
É tempo de a acabar!
Mas antes...

Beijinhos

8:56 da manhã  
Blogger Manel do Montado said...

Está tudo bem ou é só muita tarefa?
Bjokas

12:44 da tarde  
Blogger António said...

Obrigado pela tua visita ao meu XVII episódio.
(estou a rir-me sozinho porque a maior parte dos comentários que tens aqui são agradecimentos meus às tuas visitas ao meu blog...ah ah ah).
Mas devo dizer-te que não fui eu quem meteu o Zé num imbroglio: foi o (ou será a) "libidus" do homem (que tem mais ou menos a minha idade...eh eh)

Beijinhos

11:10 da tarde  
Blogger Conceição Paulino said...

bjs amiga e bom resto de semana

11:12 da manhã  
Blogger António said...

Querida Zica!
Mais uma visita (desta vez ao Episódio XVIII), mais um "thank you".
E já podes ler o XIX...ah ah ah
E o XX é mesmo o último.
Este novo final que escrevi já me agrada!

Beijinhos

6:44 da tarde  
Blogger António said...

Querida Zica!

Vou-te responder exactamente da forma como fiz à Leonor:

Obrigado pela visita.
Comentaste (a propósito do Zé e da Rosa):
"...podia haver um bocadinho mais de namoro, ou não?"
Eu respondo-te:
Aos 60 anos, uma vez tomada uma decisão e não havendo obstáculos, já não se perde tempo à espera de nada para passar à execução.
É a minha forma de ver o Zé a pensar.
Desde o início.

Beijinhos

7:11 da tarde  
Blogger Leonor said...

zica. o texto está excelentemente bem elaborado: com cabeça, tronco e membros.

eu acredito em mitos. eles são essenciais à insatisfação de explicaçoes do homem.

eu crio-os para as minhas duvidas.
são complemento do meu imaginario.

beijinhos da leonoreta

5:05 da tarde  
Blogger António said...

Zica Cabral, julgo que és de Paços da Serra.
Faço este comentário porque no Diário da 1ª Guerra Mundial publicado às 2ªs Feiras no Beijós XXI, http://antoniopovinho.blogspot.com
aparece a referência a um 1º Cabo, nº315, António Ferreira, Natural de Paços da Serra.

10:15 da tarde  
Blogger Conceição Paulino said...

pq hoje é o teu dia, mulher de coração grande, uma abração e k cedo deixe da ser preciso haver dias para lembrar o k nunca deve ser esquecido. Bjs fraternos
e k o dia te corra manso e doce na teia da ternura e dos afectos

8:56 da manhã  
Blogger António said...

Olha que o antónio que fala em Paços da Serra não sou eu!

2:32 da tarde  
Blogger António said...

Obrigado pela visita.
Eu gosto dos Plins porque gosto dos instrumentos de percursão como faca e taça...eh eh

Beijinhos

2:34 da tarde  
Blogger António said...

Obrigado pela visita.
Acho que descrevi bem o instrumento: tu identificaste logo a trompa alpina!

Quanto à conta das diversões...atirei com o barro à parede...e colou!
ah ah ah

Beijinhos

10:56 da tarde  
Blogger Unknown said...

Olá amiga tes aqui um post fantático que bom foi vir cá, deixo-te um abraço. Em relação ao edereço da senhora, estão lá no blog e no email que te mandei, mas deixo aqui http://anatomiadumlouco.blogspot.com
Beijinhos

10:34 da tarde  
Blogger JL said...

Olá Zica,

Tenho passado por cá e não tenho encontrado novidades. Espero que não haja um motivo severo para esta ausência.

Boa semana

6:39 da tarde  
Blogger Unknown said...

Olá amiga, os mitos existem na cabeça do ser humano por muito que nos julgamos imunes a eles todos nós temos os nossos. Beijinhos

6:18 da tarde  

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